No último sábado, 10 de setembro, enquanto boa parte do mundo “esperava” apreensivo se novas cenas como as acontecidas à 10 anos atrás, quando símbolos do império estadunidense foram atacados, seriam vistas novamente; em um bairro da periferia da periferia do Brasil, um outro sentimento era compartilhado.
Comemorando seu aniversário de 4 anos e fazendo a cerimônia de entrega dos kits para ‘o pessoal do break’, além de apresentar as mudanças em sua estrutura física - kits e mudanças proporcionadas pelo prêmio Preto Ghoéz 2010 - o Quintal Cultural homenageou e foi homenageado em uma noite inesquecível, com muita festa, batucada, diversas formas de expressão e linguagens e muita energia positiva.
A festa começou com a batucada do Coletivo Afro Caeté. Suas alfaias pareciam reproduzir as batidas dos corações d@s idealizares/as do Quintal. A animação era notória. Muita dança acompanhando a vibração dos instrumentos do Coletivo. A noite estava apenas começando...
Logo depois, foi a vez do grupo Questão de alma, que utilizando a linguagem da dança e a expressão de rua de um dos elementos do Hip Hop: o Break; agitou a nova arquibancada do Quintal. Se apresentando tanto individual quanto coletivamente, o grupo mostrou muita garra, irreverência e determinação.
O evento seguiu com a cerimônia de entrega dos kits para os B-Boys e as B-Girls do Panteras do Mangue Break e essa molecada mostrou porque o Quintal merecia (e merece) tal prêmio. Cada kit contando com joelheiras, luvas, cotoveleiras e tênis, para possibilitar que continuem com seus passos, coreografias e verdadeiras acrobacias dentro do espaço físico do Quintal, nas praças, nas ruas, às margens da nossa querida - e tão esquecida pelos poderosos – mãe lagoa Mundaú ou onde abrirem uma roda de Break.
Com muito ritmo e poesia, a rapaziada d’A Queda deu continuidade ao evento. Perto das 23hs, quando o grupo começou, o local já não estava mais tão cheio, mas quem permaneceu pôde ver, ouvir e sentir a manifestação de mais esses dois elementos do Hip Hop – o DJ e o MC.
Para dar as boas vindas ao domingo, o belíssimo samba do Malacada. Com músicas como: Não deixe o samba morrer (Edson e Aluisio – famosa na interpretação de Alcione), Filosofia (Noel Rosa) entre outras, o samba abriu a passagem e as poucas pessoas que puderam aguardar até as primeiras horas do dia 11 de setembro, ‘varreram’ o novo piso do Quintal, mostrando que o samba também se mantém como uma expressão firme e fiel da periferia, como fora em sua gênese.
Não é novidade vermos e ouvirmos os principais meios de comunicação, falando sobre bairros como: Bom Parto, Brejal, Vergel, Levada, Ponta Grossa entre outros que fazem parte da periferia de Maceió, porém, não é novidade vê-los estampados nas páginas policiais, onde o sensacionalismo, a hipocrisia e a parcialidade cria e cultiva o estigma da violência, da inferioridade, do derrotismo etc. Atividades permanentes desenvolvidas pelo Quintal Cultural e por alguns outros grupos (como o Cine Popular, organizado pela Resistência Popular e realizado todos os meses a cerca de dois anos no bairro do Vergel) tentam contribuir para uma nova perspectiva – pois é muito fácil fazer uma obra com um gigantesco aparato propagandístico com fins assistencialistas e eleitoreiros e dizer que “está fazendo algo para a periferia”. Nossa resposta deve ser a negação a essa demagogia.
Acreditamos que apenas a organização e a luta popular podem, de fato, fazer a diferença! E a solidariedade classista deve ser uma característica irrefutável! Por isso gritamos: Vida longa ao Quintal Cultural! Criar, criar Poder Popular!
Terra de Palmares e Caetés – 11 de setembro de 2011
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