sábado, 6 de outubro de 2012

Sobre megaeventos e criminalizações


Manifestantes em POA/RS estão sendo acusados por "dano ao patrimônio público", por causa da manifestação e das ações com o mascote da Copa do Mundo!!! A pergunta que em negrito é destacada em minha mente - e que exponho aqui num somatório de angústia, revolta e solidariedade de classe - é:


"Por que o descaso com o patrimônio público por parte de governantes não é criminalizado?"


Imagem: #NãoMeCalarei/Facebook
  
Não é novidade vermos notícias sobre desvio de verba de merenda; falta de aulas por não ter professores; escolas públicas onde as aulas são suspensas porque o teto está ameaçando desabar (ou já desabou); ou escolas que têm o ano letivo bastante atrasado porque serão reformadas em caráter de urgência [logo próximo às eleições, é estranho, não?!?!]; aulas ministradas dentro de containers; noites “em claro” na porta de postos de saúde para conseguir uma ficha para ser atendido; filas e mais filas nos corredores de hospitais; os trabalhadores do SUS tendo que “fazer milagre” para manterem os hospitais e atendimentos mesmo em condições de enorme precariedade etc. Será que esses exemplos – apenas alguns entre uma infinidade deles – não servem para serem caracterizados como “dano ao patrimônio público”?

E quando achamos que, enfim, veremos justiça... O que assistimos é aquele teatro cômico e dramático no Supremo, com destaque para a atuação [coerente com nossa (in)justiça] do Sr. Lewandowski e seus pares. No julgamento do mensalão.
 

Isso leva a crer que, crime é para aqueles que se rebelam contra “a normalidade do capitalismo”, apenas e ponto. A Copa do Mundo nos vai servir para que? Torcer pela nossa seleção [que, inclusive, do jeito que está, corre o sério risco de não passar da primeira fase] e nos embebedarmos com o bombardeio midiático que vende a imagem de um povo feliz, receptivo, que vive em um paraíso tropical onde não há problemas – e se há, podem ser resolvidos depois da Copa? Seja na África do Sul, seja no Brasil ou onde for, esses mega empreendimentos são interessantes apenas para aqueles que se beneficiam deles e, com certeza, não é o povo pobre. Os trabalhadores que estão construindo (ou reconstruindo) os estádios, só poderão assistir aos jogos se “ganharem os ingressos” ou se for pela televisão mesmo.


Fora daquela imagem preocupada em fazer um belo espetáculo para gringo ver, o que têm acontecido é o despejo de diversas famílias em todas – ou praticamente todas - as cidades os serão realizados os jogos desse megaevento. Como é o caso de Fortaleza, onde a Comunidade do Trilho e outras, estão travando uma intensa luta não apenas pelas suas casas mas, por suas memórias, por suas dignidades - que, por mais feridas que estejam, não deixam de fortalecer a luta e a resistência não apenas por lá.
 

Portanto, o que aconteceu em POA/RS não é um ato isolado, não é um ato sem necessidade, sem nexo, descontextualizado, aventureiro ou qualquer outro adjetivo que a grande mídia possa utilizar. Ao contrário disso, é um ato que encontra respaldo em todos aqueles que estão sofrendo diretamente com esse megaevento ou aqueles que compreendem que, como já dito, não é algo para as classes oprimidas, mesmo as contas sendo pagas por elas, o que diz respeito às verbas públicas utilizadas.

A manifestação terminou em uma "batalha campal" no centro de Porto Alegre e muitos manifestantes foram feridos.
Imagem: Ramiro Furquim/Sul21

Para finalizar, um apelo criativo, exposto em diversos atos pelo Brasil: “Presidenta Dilma, finge que eu sou a Copa do Mundo e investe em mim. Ass.: Educação Pública”.
 

Por: um nordestino da Terra de Palmares