quinta-feira, 26 de março de 2015

QUILOMBOLA Nº1 - 2015 - Mobilidade Urbana: A solução vem da luta, não por decreto.

Mobilidade Urbana: A solução vem da luta, não por decreto.




    Pensar num projeto de mobilidade urbana para cidade tem que ser fruto dos interesses da população usuária e dos trabalhadores de transportes urbanos. Quem usa o transporte e quem trabalha nele tem melhores condições de identificarem os maiores problemas e podem apontar para soluções que apontem para uma saída coletiva e que promova o bem estar da cidade como um todo. 

    A câmara de vereadores de Maceió aprovou em dezembro de 2014 uma lei que pretendia reduzir o tempo de espera entre as viagens de ônibus em 20 min. Algo que a primeira vista parece um boa para a maioria da população, porém se melhor analisado vai se ver a total ineficácia de sua aplicação. Primeiro porque não é por decreto que se mudará situações como essa. Precisamos pensar a mobilidade dentro da cidade como algo prioritário e que garante o funcionamento de várias outras atividades. Para isso tínhamos que pensar a cidade para a maioria da população e não para apenas alguns poucos. Privilegiar o transporte público e valorizar o trabalhador que trabalha nele. 
    
    Se a cidade tivesse o transporte público como prioritário e não o individual não teríamos tantos engarrafamentos, nem tanta poluição, por exemplo. Temos que pensar as vias públicas de outra maneira e num transporte que possa fazer o deslocamento da população com segurança, conforto e agilidade.

    Diminuir a tempo entre as viagens sem dá a condição para isso pode prejudicar e muito a situação de desgaste e estresse vivenciada pelos rodoviários, sem atingir o objetivo desejado. Essa categoria precisa ser mais bem valorizada, tendo tempo de descanso respeitado para que possa transportar a população em segurança.

    Precisamos de mais transportes públicos, mas com vias que permitam seu trânsito com agilidade. A cidade tem que ser para quem mora nela e não para quem lucra com ela.

    As empresas de ônibus financiam muitas campanhas de vários políticos, que tem que prestar conta a elas depois que são eleitos. Não podemos esperar que a solução venha da boa vontade deles. Somente a organização dos debaixo (a maioria de quem vive na cidade) pode ter força suficiente para lutar por uma melhor política de mobilidade urbana.

    O transporte dos habitantes da cidade deveria ser um bem público e não um negócio lucrativo para aqueles que não sofrem nenhum problema de ordem econômica. Os empresários repassam todos os seus gastos para a população com sucessivos aumentos de tarifa, desproporcional ao aumento dos salários da população trabalhadora. Tão pouco os rodoviários são beneficiados. Porque não conseguem nem o mínimo reivindicado em reajuste salarial, muitas vezes tendo sua direção de sindicato negociando aumento menores do que o desejado pela categoria.

    Para onde então vai a grande arrecadação que se tem com tarifas de ônibus? Viram lucro dos empresários.

   Lutar por uma outra lógica de transporte urbano é uma luta difícil que não passa por fazer “acordões” com políticos e empresários. Somente com muita mobilização da população usuária em unidade com os trabalhadores de transporte urbano teremos força para conseguirmos avançar na disputa da cidade.

sexta-feira, 20 de março de 2015

QUILOMBOLA Nº1 - 2015 - Ocupar ruas e praças, pelo direito à cidade

 

Ocupar ruas e praças, pelo direito à cidade





     Desde que os seres humanos desenvolveram a habilidade de caminhar sobre duas pernas iniciaram um processo de exploração e ocupação de novos territórios. Seja para fins de alimentação ou abrigo, a ideia de que nós poderíamos ir aonde nossas pernas permitisse já existia – mesmo que inconscientemente. E a partir disso nos foi possível adequar a natureza às nossas necessidades e desenvolver meios de socialização para além do uso da terra para o trabalho; surgem então as práticas de lazer – jogos, corridas, etc.

    Percebemos, então, que desde os primórdios – e isso foi se refinando com o desenvolvimento intelectual – os humanos buscavam exercer seu direito de ir e vir e usar a terra para diversos fins. No entanto, na mesma medida em que se buscava usar a terra livremente, existiam outros que quiseram – e tiveram esse poder – de usar a terra como propriedade privada.

     Desse modo, a terra possuía um dono, que restringia seu uso e ocupação por quem necessitava. De outras maneiras isso se mantém atualmente nos espaços urbanos em que vivemos. O direito à cidade é o direito de ocupar os espaços da rua, da praça, do bairro, etc... O geógrafo urbano David Harvey afirma que o direito à cidade é um direito “inalienável”, ou seja, um direito do qual não podemos abrir mão e é entendido como essencial para se garantir o pleno acesso à cidade e à efetivação de outros direitos, como saúde, educação, cultura, etc. Para isso, considera-se essencial democratizar os espaços de lazer. Exercer o direito à cidade significa assumir a nossa responsabilidade no processo de produção e de transformação da cidade. Discutir mobilidade urbana e direito à cidade significa problematizar a realidade de injustiça, opressão, agressão e exclusão que permeia o cotidiano das cidades e seleciona de forma hierarquizada (e elitista) os que podem ou não desfrutar e exercer efetivamente o direito à cidade. Significa discutir sobre que tipo de cidade queremos: uma cidade projetada na escala humana ou na escala do capital? Os bairros nobres são atendidos por toda a sorte de serviços, escolas, quadras poliesportivas, hospitais, uma infinidade de locais para o lazer e a prática de esportes, enquanto que na periferia a realidade é outra, completamente oposta, em que mal existe sistema sanitário, com as ruas tornando-se lama quando chove e a principal prioridade é o posto policial para “garantir a segurança”. Na periferia quem garante os espaços de lazer é a própria comunidade, transformando um terreno abandonado em campinho de futebol ou utilizando uma rua pouco movimentada para dar um “rolé” de skate. Mas se uma determinada área periférica desperta o interesse das elites, elas logo se encarregam de toma-las para si, como foi o caso da desocupação do pinheirinho em São Paulo e como está sendo na questão da vila dos pescadores de Jaraguá.

     Há no debate de direito à cidade um pano de fundo também para a discussão do que diz respeito à mobilidade urbana, o direito de se deslocar pela cidade e acessar aos diversos serviços que ela oferece. E dentro desse debate encontramos também a desigualdade social como ponto central para a discussão. É necessário se deslocar à escola, ao centro de saúde, ao cinema, ao local de trabalho, etc. O debate sobre a mobilidade urbana versa, dessa forma, sobre a garantia de condições necessárias à utilização dos serviços, como também sobre os obstáculos a essa utilização. Os altos preços da tarifa de ônibus, a falta de estrutura para meios de transporte alternativos, como as ciclovias, são obstáculos à utilização dos serviços acima referidos.

     Aqui mesmo na zona sul é possível encontrar um exemplo latente de restrição ao direito a cidade: é o caso dos que andam de skate, esporte bem tradicional por aqui; todos os dias basta percorrer as ruas e as praças do bairro do Vergel do Lago e adjacências para encontrar com a galera praticando o esporte, não porque há incentivo para a prática, pelo contrário, a estrutura é zero, mas porque a rapaziada se organiza e improvisa os obstáculos. Bem diferente da realidade dos bairros nobres da cidade que contam com pistas bem estruturadas – dos quatro principais locais para a prática do esporte, três estão localizados em bairros nobres e apenas um na periferia, que é o caso da rampa do Biu –, ou seja, como dito anteriormente os bairros nobres são atendidos por toda a sorte de serviços. Aqui na zona sul o pessoal teve que lutar para conseguir fechar uma rua à noite para poder praticar o esporte.

Família PST, que marca presença forte nas praças da Zona Sul

     “Infelizmente aqui em Maceió nosso esporte não é tão valorizado. Os melhores locais para os rolês são na pista da Pajuçara e na praça do skate e até mesmo lá existem vários buracos na pista e poucos obstáculos, dificultando o rolê da galera e a evolução”. É o que afirma Samuel Rodrigues, morador da Zona Sul e praticante do esporte. Afirma ainda que a prefeitura, através da secretaria de esporte, decretou a praça do Rui Palmeira como sendo praça do esporte e do lazer mas só o que encontramos ao ir a praça são duas placas da prefeitura que servem apenas para sinalizar que a rua está fechada. “O bob é um cara da região que tem uma loja de skate e vem fazendo muito pelo esporte, foi ele quem, praticamente, ressuscitou o esporte na Zona Sul, sempre nos reunimos para fazer obstáculos novos, inclusive fizemos uma pequena pista próximo ao milénio onde praticamos contemplados pela Lagoa Mundaú’’, completa ele. Ou seja, se não fosse pela iniciativa da comunidade a prática do skate na Zona Sul seria praticamente nula.

Rolê na praça dos pobres

     O movimento do skate tem um grande histórico de lutas e resistência na busca pelo direito à cidade, já que o esporte enfrentou diversas proibições e por conta disso ainda hoje é taxado como um esporte marginal. Ao longo de sua história o skate se tornou, sem dúvidas, o esporte mais urbano que existe. Nas ruas, os skatistas fazem suas próprias rampas e ocupam as cidades usando-as como um grande skate Park. O mais urbano dos esportes aproximou-se de outra cultura igualmente urbana, o Hip-Hop, com presença forte também aqui na zona sul, aglutinando suas formas de expressão como a arte, a música e a moda, tornando-se uma cultura híbrida e sólida. Os skatistas não praticam somente um esporte, são adeptos a um estilo de vida. A história está ai para nos mostrar que a única forma de conquistar o direito de acesso a cidade é nos organizando e lutando juntos por tais direitos. Essa luta deve ser organizada e protagonizada por nós mesmos, seja na nossa comunidade, na escola ou até mesmo no local de trabalho, pressionando as elites através das diversas formas de mobilização que temos em mãos, partindo das lutas mais locais e imediatas, como a luta por uma praça do Skate aqui na Zona Sul e evoluindo para lutas e conquistas mais amplas, como a mobilidade urbana e o direito a cidade, caso contrário ficarmos a mercê de políticos que surgem de dois em dois anos com suas promessas, pois sabemos bem de que lado eles estão nessa disputa por direitos.



sábado, 8 de novembro de 2014

Resistencia Popular convida - Consciência Negra!



Há mais de 400 anos surge onde hoje são terras alagoanas a maior resistência à opressão que já existiu no nosso país. O Quilombo dos Palmares persistiu por quase 100 anos numa experiência que envolvia os negros que tinham sido escravizados na África, mas que conseguiram escapar de seus opressores e fundar um polo de resistência baseado em princípios libertários. Sua experiência deve nos inspirar a reorganizarmos a luta do povo oprimido de um estado tão sofrido como Alagoas. Contra séculos opressão, dos Senhores de Engenho aos Usineiros, temos que reconstruir Palmares. 
A Resistência Popular de Alagoas convida à todos para sua atividade do dia da Consciência Negra.


Viva a Zumbi!
Viva a Dandara!
Viva ao Quilombo dos Palmares!








segunda-feira, 6 de outubro de 2014

ABAIXO A FARSA DO PNE! - POR UMA EDUCAÇÃO LIBERTADORA, FEITA PELO POVO E PARA O POVO!


  Acompanhamos no início deste ano a reformulação e atualização do plano plurianual denominado Plano Nacional de Educação. Este plano que, visa apresentar metas e propostas de melhoria para a educação em todos seus níveis e modalidades, apresenta um discurso de “democracia participativa” do qual o governo do PT se utiliza para camuflar e mascarar suas ações neoliberais, com um cunho dito “popular”.
          
  Infelizmente alguns movimentos sociais, muitos com ligações estreitas ao governo federal apoiam o PNE e sua participação no processo deu uma maquiagem mais democrática, mas na verdade o projeto se alinha as políticas orientadas pelos organismos financeiros internacionais e sua concepção e finalidade está longe de ter um caráter popular positivo.  
          
  Além disso, o PNE é forjado desde a década de 1990, quando surgiu a ideia de organização do primeiro documento, pelas ideias-força de organismos internacionais como o Banco Mundial, ONU e Unicef, que visam uma educação tecnicista, neoliberal e de preparação estrita para o mercado de trabalho.
           
 O PNE atual está repleto de manobras que estes organismos internacionais e agências multilaterais construíram a favor de benefícios estatais e financeiros. Além disso, ele quebra todas as estruturas políticas que a própria Lei de Diretrizes e Bases da Educação-LDB, exibe em seu documento, se afastando da oferta de uma educação pública e de qualidade. Isto se dá devido ao grande incentivo a iniciativa privada em ofertar a educação, principalmente através de cursos técnicos no Ensino Médio, e total desvalorização ao Ensino Superior público.
            
Portanto, a Resistência Popular se coloca em uma posição contra hegemônica a estas políticas destrutivas para a educação brasileira, onde seu real interesse é a produção de mão de obra para o mercado, e, o distanciamento da formação humana com base na solidariedade, autonomia, criticidade, laicidade e coletividade, bases estas que são essenciais para a construção de uma educação libertadora e transformadora.

Resistência Popular - Alagoas




terça-feira, 2 de setembro de 2014

Uma nova constituinte não responde a nossas urgências.

O PROBLEMA DO ATUAL PLEBISCITO 


Desde as grandes mobilizações populares de junho de 2013, passando pelas greves de 2014, algo de novo, no passado recente do Brasil, nos foi colocado: a grande insatisfação da maioria da população contra as instituições que controlam nossas vidas e as diversas maneiras de lutar contra o estado de coisas que nos aprisiona, seja no nosso trabalho, no nosso estudo, no bairro que moramos, etc. De fato, a maior parcela da população atem-se às formas mais imediatas de demonstrar essa indignação, mas tivemos greves históricas com ganhos reais ou parciais  conduzida, em boa parte das vezes, pelos trabalhadores, à revelia das direções sindicais. Isso mostra que fazer movimento sindical também é possível, mesmo com sindicatos aparelhados por grupos políticos que os fazem girar em torno de seus próprios interesses e/ou atrelados a patrões.
Como dissemos, foram colocadas em cheque as formas antigas de se fazer política, principalmente as políticas institucionais. O desinteresse dos brasileiros pelas eleições para cargo legislativo e executivo é grande. Transformar a revolta em ação de mudança, na luta pela defesa e ampliação de direitos, bem como na construção do poder popular, não é fácil. A maioria não passou da situação de conforto da crítica, mas não foram poucos os que fizeram greves, como as dos Garis e Rodoviários.
Acreditamos que as mudanças tão sonhadas, aquelas balizadas pela igualdade e liberdade, virão na medida em que o conjunto dos oprimidos se fizer protagonista, e, organizado, lutar com ação direta e na construção do Poder Popular.
Uma parcela dos movimentos sociais atualmente está organizando um plebiscito nacional por uma nova constituinte. No nosso passado recente, vários foram os plebiscitos puxados por movimentos sociais, como o contra a ALCA, pelo não pagamento da Dívida Externa, entre outros. Esses foram importantes instrumentos, pelo menos em potencial, de pressão, propaganda e possibilidade de ampliação de diálogo com o restante da população. Não foram plebiscitos oficiais, por isso, seus resultados não foram oficialmente aceitos, mas promoveram importantes debates.
Um plebiscito oficial, sendo apenas consultivo, não garante poder de mudança nenhum na mão do povo. Um plebiscito oficial, com capacidade direta de decisão da população, pode trazer decisões importantes, mas mesmo assim não seriam decisões centrais. O Estado tem uma estrutura forjada para garantir que as estruturas de domínio continuem privilegiando uma minoria opressora. Mudanças que colocassem em cheque essa situação não poderiam ser promovidas pelo próprio Estado.  
O problema do atual plebiscito proposto por vários movimentos sociais não é seu formato, que já foi utilizado outras vezes, como falamos. O problema desse plebiscito está na forma como ele propôs o diálogo com a população que se revoltou em junho de 2013. Se a revolta da população é contra as instituições (governos, parlamentares de maneira em geral, judiciário, polícias, grandes empresas, etc.), não acreditamos que chamando essa população para uma nova constituinte se resolveria o problema. Depois de tanto esperar para vermos um espírito de revolta nascer em grandes parcelas da população, não dá para queremos conduzir esse espírito de revolta para uma saída institucional.
Querer uma constituinte é apostar numa saída que pode adestrar parte da população para o diálogo com seus algozes: governos e patrões. Vemos as greves espontâneas deste ano como o tipo de saída que apostamos. Educar o povo na revolta, construir protagonistas na ação direta é o que precisamos. Parar a luta para fazer uma constituinte nos conduz a velhas fórmulas que não apontaram saídas para o povo oprimido. Se temos direitos garantidos em lei, foi devido a muita luta de gerações anteriores. Se quisermos acumular mais vitórias e construir o Poder Popular necessário para transformação social almejada, continuemos na luta. 


sábado, 30 de agosto de 2014

Debate A outra campanha - Pela força das RUAS, lutar e vencer FORA DAS URNAS!


No dia 11 de setembro, a partir das 19h, estaremos debatendo a construção do poder popular pela força das ruas, para além das eleições. A atividade será realizada no Hall do CEDU/UFAL (em frente a lanchonete),


A Outra Campanha é uma articulação aberta aos grupos, movimentos e companheiros interessados em construir uma outra forma de fazer política, com base no protagonismo e na luta popular. É na luta que se cria o poder popular, que fazemos valer nossos direitos e arrancamos das elites políticas e econômicas as conquistas. A Outra Campanha Brasil é inspirada em La Otra Campaña organizada pelos zapatistas e espalhada pelo mundo.