Na
ultima segunda-feira (06/07/2012) houve, como a maioria a população já está
sabendo, uma manifestação dos trabalhadores informais no centro da cidade de
Maceió que, basicamente, revindicavam melhorias nas suas condições de trabalho,
e essa manifestação acabou não tendo tanta cobertura e divulgação dos
verdadeiros fatos na grande mídia formal/convencional. Por isso, intenciono
nesse texto, esclarecer e explicitar os reais (e adianto: gratuitamente
brutais) acontecimentos daquele dia e situação.
Na
segunda-feira fui ao centro da cidade, quando por volta das 11:30, andava pela
rua do comércio, e vi começar então uma repentina correria por parte da
maioria das pessoas que estavam no local, acompanhada por uma estranha (e para
mim nova) situação: os lojistas estavam, apressadamente, baixando as portas das
lojas sem hesitar, mesmo com clientes lá dentro. Sem entender o que acontecia,
perguntei a um homem próximo a mim o porquê das lojas estarem fechando de
repente, e ele me disse que era por conta da manifestação dos ambulantes, e que
os lojistas temiam que estes quebrassem as lojas. Não entendi muito bem a
conexão entre as coisas que o homem havia me explicado, então perguntei a um
vendedor ambulante (que preferiu não falar o nome) próximo se ele daria uma
entrevista para o blog Resistência Popular falando sobre o ato que faziam ali.
E ele me informou que a manifestação acontecia pela insatisfação que tinham com
as suas atuais condições de trabalho, porque foram massivamente retirados do
local de trabalhavam e remanejados para um shopping popular, porém somente
pouco mais de 400 ambulantes tiveram o “privilégio” concedido, enquanto a
demanda total é de mais de 1000 trabalhadores, resultando numa situação em que
mais da metade desses trabalhadores ficou sem um local fixo para comercializar
seus produtos, o que afeta muito suas rendas mensais. Ele ainda me disse que os
trabalhadores informais foram retirados de seu antigo ponto (próximo à praça
dos palmares) por pedidos dos empresários, e que certamente estavam em conluio
com o estado para ter tal vontade efetivada.
Então
impulsionados por todos esses motivos, os manifestantes estavam pedindo, com a
força de toda sua massa que revindicava ali, que lojistas que fechassem suas
lojas, paralisando e assim impedindo que o comércio formal continuasse com suas
atividades durante aquele dia, porque: “Ninguém trabalha aqui no centro
enquanto a gente também não tiver condições de trabalhar com dignidade(...) e
as lojas só vão voltar a funcionar quando o governo resolver nossa situação” me
disse o ambulante. E quando perguntei sobre a correria dos presentes em direção
oposta a dos manifestante, ele me disse: “o pessoal não precisa ter medo nem
correr, que a gente não vai quebrar nada, não vai ter bagunça, a gente só quer
fechar as lojas pra poder ser ouvido”.
Então
os manifestantes se aproximaram do local onde eu estava, onde foram abordados
pela polícia, dizendo que os trabalhadores que ali protestavam não poderiam
fazer aquilo, porém eles continuaram firmes em seu propósito de luta, se
espalhando e continuando a pedir o fechamento das lojas.
A
situação continuou nesse clima até o meio dia, aproximadamente, quando então o
movimento se intensificou, e da mesma forma a quantidade de policiais cresceu,
e esses já se dividiam entre viaturas e motos e carregavam bombas em punho e
apontavam suas armas em direção a manifestantes, ameaçando a segurança e
intimidado assim todos os presentes (que a essa altura já não eram só
manifestantes, mas lojistas, transeuntes, populares etc) então a repressão
policial logo respondeu violentamente às manifestações que continuavam a
todo custo por parte dos trabalhadores informais que revindicavam seus
direitos, então lançaram primeiramente bombas de efeito moral em direção aos
cantos mais aglomerados de participantes do protesto e logo depois formaram um
bloqueio da passagem para conter a progressão do protesto.
A
situação ficou muito mais tensa quando o BOPE apareceu, saindo de uma rua
próxima a Casa Vieira, onde cerca de doze agentes formavam um esquadrão,
vestidos todos de máscaras pretas, e portando armas e bombas preparadas para o
uso imediato. Nesse momento inclusive os policiais da PM se afastaram do local,
retirando-se do meio e ocupando os cantos, ficando encostados às paredes.
Enquanto isso um grande número de pessoas entoavam e repetiam: “Queremos
trabalhar!” e mesmo somente com essa ação pacífica de contestação que os
ambulantes faziam, o BOPE pressionava e coagia os agitadores do ato, quando
então um dos manifestantes, num ato de enfrentamento às forças coercivas ali
presentes, que tentavam oprimir aqueles trabalhadores e para tal utilizavam-se
de seus aparatos bélicos, atirou uma pedra em direção à viatura, sendo então
perseguido e preso pela polícia, apesar de sua resistência durante essa ação.
Em
seguida ao acontecido, os policiais do BOPE, gratuitamente, sem que houvesse
ameaça concreta alguma por parte dos outros presentes, atirou em direção às
pessoas, duas bombas, o que causaram ferimentos em alguns presentes e a
dispersão dos que protestavam, e esses ainda foram perseguidos a chutes e
cassetetes por policiais militares e alvejados (por bala de borracha) pelas
costas enquanto se afastavam do local por policiais do BOPE, resultando em
quatro homens feridos, cada um com pelo menos quatro tiros espalhados pelo
corpo, e um deles atingido por um tiro na cabeça.
Depois
das revoltantes ações de completo abuso de autoridade, violência gratuita,
truculência e desrespeito aos direitos civis de ir e vir e de protestar, os
polícias (BOPE e PM) presentes seguiram fazendo uma caminhada de dispersão do
movimento, amedrontando com suas armas os manifestantes que resistissem e
insistissem continuar de alguma forma protestando naquele espaço.
E
então finalmente seguiram até a Rua da Alegria, onde pareciam se preparar para
deixar a área, nesse momento dois carros do BOPE deixavam o local, um com
policiais já em cima e outro com apenas o motorista, enquanto cerca de doze
deles caminhavam de costas (mas ainda empunhando suas armas e em formação de confronto)
se afastando do local, o fizeram sem mais conflitos e impedimentos até o final
da rua, quando subiram todos no carro, e uma vez feito isso, sem que houvesse
qualquer ameaça, qualquer clima de tensão, qualquer aproximação de
manifestantes; cerca de quatro policiais que ocupavam a traseira do carro de
trás, começaram a desferir diversos tiros em direção à multidão de pessoas que
circulavam no local, causando o mais completo desespero em todos, com total e
absoluta imprudência, não querendo tomar nota se haviam ali somente
manifestantes, transeuntes, curiosos, lojistas, crianças, moradores das
imediações, etc, pra eles não importava quem ou por qual motivo estariam ali,
todos correram o mesmo risco de serem alvejados sem saber a razão, e comigo não
poderia ter sido diferente, escapei por poucos metros da linha de fogo feita
pelos policiais.
Com
a saída do BOPE, alguns manifestantes remanescentes retomaram com vitalidade,
apesar de todos os lamentáveis e repressores acontecimentos, a rua do comércio
com as palavras de ordem direcionadas às lojas.
A.A. – militante da
Resistência