segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Os frutos do Sarau da Resistência

Um mês depois do seu primeiro Sarau, que marcou também a comemoração de seus 5 anos de existência, a  Resistência Popular Alagoas traz alguns frutos desta construção coletiva. 

O relato a seguir foi escrito pelo companheiro Robson Véio, facilitador das oficinas que ocorreram no dia 24 de Agosto e grande entusiasta do Sarau da Resistência:


Sobre o SARAU DA RESISTÊNCIA

No sábado, 24 de agosto de 2013, eu tive a oportunidade de conhecer a sede da Resistencia Popular- Alagoas. Situada no Vergel que é um dos bairros, segundo as estatísticas, mais violentos de Maceió, nada me surpreendeu quando, ao olhar para os lados, pude perceber que não se via as mesmas coisas que inexistem nos bairros de periferia em todo lugar do mundo... Ou seja; tudo o que os bairros nobres têm de sobra.

Mas o que se poderia ver também - e não me foi surpresa - foi uma maioria de pessoas (uma maioria Preta mesmo quando com a pele mais clara) sem um espaço para saciar suas necessidades além do mínimo para se manterem vivas e alimentarem os cofres doutros com sua força de trabalho ou desempregadas sendo usadas como pressão para amedrontar as lutas daquelas que ainda se  mantem em “condição produtiva”.
A sede, que é uma casa com 2 quartos, tem biblioteca, sala de informática (em construção) uma boa área externa e mantém atividades como reuniões, debates, exposição de filmes e documentários, etc...
Eu fui até lá realizar uma oficina de Sarau, oficina esta que foi dividida em vários momentos. De inicio fiz uma apresentação sobre o surgimento dos Saraus na historia, a resignificação/resgate por nós da Periferia, uma oficina para a construção de um Sarau, onde foram apontados alguns aspectos importantes para organização e para que ele possa funcionar de acordo com os objetivos que se almeja, que no nosso caso para além de um espaço de confraternização da poesia é que sirva como uma ferramenta para a construção do Poder Popular.
Foram usadas como material da oficina os vídeos: “Curta Saraus”, “Documentário Sarau Elo da Corrente” e “Sarau do Binho Vive”.
Terminada a oficina, e após um intervalo, junto com a noite nasce o “Sarau da Resistencia”.
Realmente é muito difícil colocar em palavras, sentimentos e ações que acabam tocando de maneira tão forte os nossos corações, afinal como diz Marechal “computador não capta emoção espiritual”. Sentimentos estes que devido as dificuldades diárias os capitalistas dizem que não podemos ter, como sorrir entre os nossos mesmos sem parar por um instante de lutar e com isso nos abastecer  com mais energia para enfrentar a peleja contra quem nos acorrenta.
O “Sarau da Resistência” foi sensacional!

Todas as vozes recitando gritos de revolta, alegria, dor, desejos, libido, bobagens, tristeza, amor pela vida... Negando duplamente as falas que insistem em dizer que a revolução é feita por pessoas carrancudas e que local de diversão não é lugar pra ficar se falando de politica.
Lá estavam, e não só em palavras, as Ocupações dos Sem Teto, que acontecem neste momento em Maceió; estavam os escritores das periferias de todos os cantos com sua literatura que deve ser conhecida por ser feita por pessoas como nós e não por aqueles “artistas encastelados”; estava o pessoal do hiphop, do rock e de todas as músicas; aquelas pessoas que estavam nas ruas de Maceió no enfrentamento contra o capital nas Jornadas de Junho; estavam pessoas curiosas, trabalhadores, desempregados, estudantes... Ou seja, pessoas comuns, aquelas que aprenderam desde há muito tempo, seja no momento da invasão desta terra e no massacre que se iniciou ali, seja no sequestro que sofremos para sermos escravizados ou no holocausto diário nas engrenagens dos dias atuais, que eles não podem roubar a nossa vontade de viver.
Só posso agradecer à Resistencia Popular pelo convite principalmente por fazer parte da comemoração dos seus 5 anos e dizer que o aprendizado que tive nesses dias, não só nas atividades mas nas conversas e afagos, será compartilhado com as pessoas que lutam aqui em Salvador e por onde eu passar.
“Ouçam os gritos... a Luta de Classes ainda não acabou!”

AGRADECE!

Róbson Véio



Abaixo, o Manifesto da Resistência, feito e declamado pelo companheiro Arthur:


MANIFESTO DO SARAU DA RESISTÊNCIA


Companheiras e companheiros, quero lhes dizer que hoje, nesta humilde residência, nascem flores.
Nascem flores, cores, dores e amores em formato de poema.
Estendidos num varal, deslizando pelas bocas ou retido nos pulmões dos mais tímidos, eles vão
brotando da cada cabeça e sendo colhidos por cada coração aberto para recebê-los sem algemas.

Com o vento batendo nos varais, as letras no papel sangrado se vão à revelia tocar os passantes em
 cada esquina dessa periferia.
Com a boca abrindo e fechando no compasso do ritmo cardíaco, a voz vai aos poucos liberando em
pequenas doses essa feitiçaria, que entorpece nossos ouvidos e nos preenche cada parte antes vazia
e nos pulmões dos envergonhados, o ar circula num endo-fluxo infinito junto aos pensamentos
contidos, confabulando em versos mudos os segredos nos olhos escritos.


Companheiros e companheiras, gostaria de lhes revelar  que, nesta humilde residência, moram
sonhos. Moram corações e, principalmente, mora o sangue; da luta e da vida.
Esse mesmo sangue latino e nordestino que corre em suas veias e nas minhas.
E que nos abarca e nos abraça numa irmandade robusta, e que ao mesmo tempo, nos acaricia.

Companheiras e companheiros, a velha quintessência profana da Bahia nos trouxe hoje a

oportunidade de partilhar um pouco de nossas angústias, paixões e alegrias; embriagadas por ritmo
e poesia.
Então vamos! Celebremos não apenas hoje, mas em toda vida! Não apenas agora, mas a todo
instante de cada novo dia!

Companheiros e companheiras, confesso-lhes do fundo das minhas letras nuas e cruas que desejo
que a partir de hoje, se edifique e se fortaleça a resistência a este mundo vil. E vamos reescrevendo-o  conforme a nossa caligrafia.

Companheiras e companheiros, nesta viva resistência se agrupam mentes, corpos e corações que seguem lutando e avançando construindo o poder da periferia.
E juntos, por onde quer que passemos, seja com versos em poesia, com palavras de ordem, com
armas nas mãos, com a bandeira vermelho-negro em punho ou com as canções sobre a revolução e
 a vida em frente aos corações que carregam um novo mundo; que se juntem a nós!

Então lutemos e brindemos, porque agora é a hora e hoje é o dia!
Lutemos! 

 

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